As entidades laborais de vanguarda tendem a fazer “os maiores esforços possíveis para conseguirem atrair e reter os melhores talentos, porque sabem que disso depende o seu futuro”. Contudo, em Portugal, há ainda muito caminho a percorrer.

É muito difícil fazer uma avaliação global de todas as empresas portuguesas, porque, dentro deste espectro, temos extremos muito marcados. Ou seja, no tratamento das pessoas e da importância que dão ao tema, temos empresas que, concorrendo até em concursos internacionais, se classificam no topo, outras que são referência em termos internacionais, e dão origem a casos de estudo, e temos por outro lado empresas em que ainda se pensa um pouco como se estivéssemos em meados do século XX e em que as pessoas precisam de pedir autorização para tudo, ou que não têm liberdade – algumas não têm contratos, inclusivamente. Portanto, acho que existem os dois extremos.

Estamos a passar por uma fase em que os Recursos Humanos, em Portugal, são escassos em diversas áreas, pois temos uma grande fatia da população envelhecida e pouca população jovem. Principalmente porque, parte dela resolveu emigrar e continua a emigrar, por variados motivos. Consequentemente, as empresas que têm as pessoas com um papel relevante na sua cadeia de valor revelam cada vez mais preocupação com a satisfação dos seus colaboradores no local de trabalho e estão, efetivamente, a melhorar, tentando fazer de tudo para atrair e reter o talento. É importante pensarmos se uma empresa precisa de Recursos Humanos e não os trata bem, então ela está a dar cabo do seu próprio negócio. Esta preocupação traz retorno evidente. Se calhar até podemos pensar ao contrário, ou seja, e se não o fizer? Se não o fizer tem um grave problema de negócio.

Um ambiente organizacional saudável, competitivo e aberto à inovação, é um fator potenciador da produtividade. No atual mercado global e competitivo, a gestão do capital intelectual das empresas é uma necessidade com que todas as direções de recursos humanos se deparam e um aspeto fundamental que determina os seus níveis de competitividade. Neste sentido, as políticas de recursos humanos devem estar alinhadas com a estratégia das organizações e devem ser desenhadas e implementadas de forma a gerar valor para a própria empresa.

Ao longo do tempo a gestão dos recursos humanos tem evoluído significativamente. A preocupação meramente administrativa e contratual passou a ser uma questão mais direcionada para a motivação. Está cada vez mais presente a competitividade entre as empresas, exigindo assim que as empresas tenham controlos internos adequados e eficazes. Os controlos internos assumem um papel muito importante nas organizações, na medida em que estas necessitam de uma avaliação eficaz para cumprir os seus objetivos. Os controlos internos permitem acompanhar os resultados de uma empresa, fornecendo ao gestor uma análise clara sobre a situação da empresa. As pessoas são o ativo mais importante nas empresas. Embora nem todas as empresas valorizem as pessoas como deveriam, são as pessoas que definem ações estratégicas, estabelecem os limites e as potencialidades das empresas e tomam decisões que conduzem a organização rumo ao sucesso.

Acho até que a grande diferença está mais na forma como a liderança olha as pessoas do que na dimensão ou no tipo de empresa. São as empresas multinacionais que têm mais anos de experiência nesta área mas, uma vez que há PME fantásticas e PME péssimas, há startups ótimas e startups mais ou menos, temos também multinacionais muito boas e outras, nem tanto. Eu diria mais que há empresas em que a liderança entende que as pessoas são o seu bem mais importante, e há outras que entendem que as pessoas são apenas um dos componentes, que podem ser substituíveis e que são descartáveis.

Há atualmente e felizmente, diversos movimentos que tendem a obrigar as empresas a tornarem-se mais atrativas, para que a sua retenção seja também maior. Se olharmos para os espaços de trabalho, por exemplo, estes têm vindo a sofrer profundas mudanças, e hoje vemos escritórios que não têm um “ar de trabalho” e nos quais se procura recriar ambientes que conjuguem trabalho com conforto, para que as pessoas se sintam bem. As empresas de vanguarda tendem a fazer os maiores esforços possíveis para conseguirem atrair e reter os melhores talentos, porque sabem que disso depende o seu futuro. Todas as outras, para poderem continuar a atuar e a crescer, vão ter de passar a dar atenção a estes temas. As que não o fizerem, mesmo em setores mais tradicionais, vão acabar por perceber que o seu negócio será tanto melhor e mais rentável quanto a qualidade das pessoas que consigam atrair e reter na sua organização.